Gonçalo de Carvalho
BBC Para África, Londres
Guerrilheiro da Frelimo
transportado, sob a guarda de soldado português, em helicóptero rodesiano
A história começou em Moçambique,
na província de Tete, há mais de quatro décadas, no tempo da guerra colonial e
da luta armada de libertação.
Num assalto a uma base da Frelimo
é feito um prisioneiro e o oficial do exército português que comandou o golpe
de mão confiscou-lhe um aparelho portátil de rádio.
Agora, passados quase 42 anos,
esse oficial, na altura o alferes Jaime Foufre Andrade das Operações Especiais,
quer devolver o rádio com um abraço ao seu legítimo proprietário ou a seus
familiares.
Quero encontrar outra vez esse
guerrilheiro, que agora já não é guerrilheiro -- é um cidadão moçambicano
normal -- e dar-lhe um abraço e devolver-lhe aquilo que lhe pertence' disse
Jaime Andrade aos Serviços em Língua Portuguesa da BBC para África.
Foi
mais um episódio de uma guerra prolongada entre as forças coloniais portuguesas
e a guerrilha da Frelimo, em que se registou a participação da Força Aérea da
Rodésia.
Em
Setembro de 1968, as forças portuguesas no acampamento de Tembué são envolvidas
numa grande operação, denominada
Durante um voo de observação efectuado pelos rodesianos tinha sido referenciada uma
importante base da guerrilha, a Base Beira, que fora montada por Samora
Machel.
A
operação
Imediatamente
se organizou uma acção bélica tendo sido destacado o alferes Andrade, das
Operações Especiais, para comandar o grupo que iria efectuar o assalto à base do 'inimigo'.
Quero
encontrar outra vez esse guerrilheiro, que agora já não é guerrilheiro -- é um
cidadão moçambicano normal -- e dar-lhe um abraço e devolver-lhe aquilo que lhe
pertence'
x-Alferes
Jaime Andrade
O rádio
no centro da história que é para devolver ao seu legítimo proprietário
Com a
distância a encurtar-se, o guerrilheiro de repente imobiliza-se e descobre a
presença da tropa portuguesa.
Segundo
o relato do alferes Andrade à BBC, o guerrilheiro 'deixa cair o rádio, tenta a
arma e lança-se numa corrida em ziguezague' para escapar às balas e desaparece
entre a vegetação.
Com todo
o ruído que envolveu este recontro estava definitivamente estragado o efeito
surpresa para o assalto à base.
Os
portugueses procuram o guerrilheiro e encontram-no ferido numa perna e só
depois de lhe prometerem que não o matariam é que ele se entrega.
O
guerrilheiro é aprisionado e são-lhe administrados os primeiros cuidados
médicos necessários para os ferimento numa perna e no calcanhar, que não são
graves.
Foi
então nessa altura que o comandante da força de assalto portuguesa se apodera
do aparelho de rádio, que considera um troféu de guerra.
A
operação prossegue depois mas já sem o efeito surpresa e, quando a tropa
portuguesa entra na base, só encontra população-- alguns elementos idosos
mulheres e crianças -- e pouco material importante.
O
alferes Andrade num helicóptero dos 'vizinhos' da Rodésia
Helicóptero
Allouette III rodesiano em acção no norte de Moçambique
Partindo
de Tembué em helicópteros Alouette III rodesianos, os militares portugueses são
largados em terreno difícil próximo da base para tentar um assalto de surpresa.
Segundo
a narrativa do alferes Andrade, sob um sol escaldante do meio-dia o grupo
orienta-se pela bússola seguindo silenciosamente em direcção ao objectivo.
Na
frente seguia um soldado moçambicano, o cipaio Guiguira, que iria servir de
intérprete para o caso de haver contacto com o 'IN' ou com algum elemento da
população.
E é
Guiguira o primeiro a detectar um guerrilheiro que, envergando farda caqui,
caminhava descontraído, com a arma a tiracolo e um rádio portátil na mão
direita.
A
captura
A tropa
portuguesa imobiliza-se enqu
anto que o guerrilheiro continua descontraído a avançar na sua direcção, com o rádio a transmitir 'uma bem ritmada marrabenta'.
anto que o guerrilheiro continua descontraído a avançar na sua direcção, com o rádio a transmitir 'uma bem ritmada marrabenta'.
Os
ruídos provocados pelo encontro com o 'homem do rádio' tinham alertado os
guerrilheiros da Base Beira que, em vez de fazer frente ao inimigo,
preferiram pôr a salvo todo o equipamento e documentação importante.
E
depois de uma noite 'na mata' e de uma longa caminhada, a tropa portuguesa com
o pouco material que conseguiu encontrar, com o prisioneiro e elementos da
população, é transportada de novo nos hélis rodesianos para o Tembué.
Quem é
o dono do rádio?
Muitos
anos passaram desde a guerra colonial e o Jaime, o antigo alferes Andrade, foi
tomando consciência de que não era o legítimo proprietário do rádio.
O
aparelho foi sempre muito estimado, encontra-se em perfeitas condições e o
Jaime quer devolvê-lo, precisando para isso de identificar o antigo guerrilheiro
ou algum familiar para o contactar.
De
repente Guiguira pára. Fica imóvel. Deve ter avistado a base. Faço o clássico
sinal de inimigo à vista e o pessoal recolhe-se. Guiguira continua
imóvel. Parece hipnotizado. Sigo o seu olhar e... congelo: vem lá um
guerrilheiro!
Alferes
Andrade
O
dono do rádio... alguém conhece o seu paradeiro?
Para
isso são importantes os dados referentes à operação, nomeadamente o local e a
data em que ocorreu.
O golpe
de mão contra a Base Beira, junto ao rio Kapoche, decorreu dentro de uma
operação muito mais ampla denominada Equador.
O grupo
do alferes Andrade partiu do acampamento de Tembué e para lá regressou no final
do ataque à base da Frelimo.
Base Beira junto ao rio Kapoche, na
província de Tete.
O guerrilheiro estava armado com
uma arma automática, uma pistola-metralhadora PPSH de fabrico chinês, e no
final foi evacuado num helicóptero rodesiano (como se vê na imagem inicial).
Quem tiver alguma informação sobre o guerrilheiro em causa ou algum familiar seu
poderá contactar-nos através do nosso website (no lado esquerdo da nossa
página clique em Contacte-nos)
Um
rádio, um guerrilheiro da Frelimo e um soldado português..
.
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