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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

ASSOCIACAO DE JORNALISTA E HOMENS DE LETRAS DO PORTO



LEMBRAR JOSÉ AFONSO 2014



No dia 22 de Fevereiro, a A.A.S.T.C de Baião em conjunto com a Aja Norte e a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, o publico e os artistas convidados, lembraram José Afonso (Zeca).
Passaram 27 anos sobre a morte do cantor e compositor José Afonso, uma das maiores referências da música popular portuguesa que se notabilizou por ter sido o autor da canção senha da Revolução do 25 de Abril, «Grândola, Vila Morena».
 Foi a 23 de Fevereiro de 1987, com 57 anos que nos deixou a esperança de um pais melhor, era eu um jovem com 23 anos que via partir uma das figuras, que marcou e marcará as gerações ao longo da história. Incomparável ao nível de solidariedade e fraternidade, e a nível musical poderíamos comparar “Pete Seeger como um Zeca Afonso norte-americano, ou então (...) um Bob Dylan, John Lennon, Léo Ferré ou mesmo, um Jacques Brel"  ao mesmo nível.
José Afonso, foi sem sombra de dúvidas, um dos melhores compositores da época e cantor português cuja canção “Grândola, Vila Morena",  foi utilizada como senha pelo MFA e transformou-se em símbolo na revolução de Abril.
A sua solidariedade deixou uma marca pela libertação de um País que se encontrava oprimido, Portugal tinha tido o mundo nas suas mãos e deixara-o escapar, depois teve a oportunidade de se libertar da opressão e ditadura definitivamente, de forma a que fosse possível viver num país igualitário, mas  viveu uma ficção, uma utopia. E porquê? Por se ter passado 40 anos a fanfar ou bufar. Liberdade é muito, por isso amo a liberdade e deixo o meu pensamento livre, a Liberdade no termo correcto da palavra, cada vez mais a fugir e a opressão cada vez mais a aumentar.
 
Como se não chegasse a ditadura, hoje camuflada e conivente, assistimos serenamente, ao churrasco, à musica pimba, ao emplastro no ranking europeu e claro o garrafão de vinho a simbolizar a Cultura Portuguesa.
Foram anos seguidos a facilitar, as dificuldades a aumentar, cada vez mais injustiças, os mais Jovens a emigrar, os mais pobres, os mais velhos e os mais necessitados com dificuldades a dobrar. 
Às vezes dou comigo a pensar, o que ando eu a aprender, porque defendo o meu País se isto prevalece e está a acontecer! Só a voz do Zeca colocada neste elenco musical, nos dá esperança de acreditar que é possível sonhar neste sistema cruel.
Passaram 27 anos, o cantor da resistência à ditadura foi homenageado por todos os que estiveram presentes na voz, de Carlos Andrade, José Silva e João Teixeira e a brilhante poetiza Lourdes dos Anjos.
 
Carlos Andrade – José Silva e João Teixeira - ente as variadas cações cantaram as mulheres guerreiras com a Mulher da Erva, a canção de Embalar tal como o Zeca Afonso sensível com as crianças, a balada Outono alertou para a condição de um povo explorado, e o seu carácter de lutador.
Lourdes dos Anjos esteve ao mais alto nível, com poesias de Ary dos Santos “ Isto vai meus amigos, isto vai.”


Apesar de irónico, tímido, raramente sorria. O Zeca era distraído ao ponto de andar com uma meia de cada cor, o Zeca era muito mais, era um canto-autor abstraído e com convicções e princípios.
Soube do 25 de Abril às cinco da madrugada, quando bateram à porta da casa do amigo Mário Reis, que lhe dera dormida depois do Zeca lhe ter dito na véspera, que a PIDE tentara prendê-lo em Grândola, onde tinha casa.
Zeca Afonso sofria de esclerose lateral amiotrófica, doença neurodegenerativa progressiva fatal que o afastou dos palcos a partir de 1983 e morreu em Setúbal, a 23 de Fevereiro de 1987, aos 57 anos.

Um GÉNIO, HOMEM entre os Homens.
Que falta nos faz o Zeca!

Penafiel 23 de Fevereiro de 2014


domingo, 23 de fevereiro de 2014

A SENTINELA

O GRANDE BESTSELLER DO ESCRITOR LUSO-AMERICANO RICHARD ZIMLER




No dia 21 de Fevereiro pelas 21:30 horas, conforme anunciado pela Biblioteca Municipal de Penafiel, esta procedeu ao encontro do Escritor Richard Zimler, com o lançamento do livro “A SENTINELA”
Um excelente autor, o agradável público, a Câmara Municipal de Penafiel representada pelo vereador Adolfo Amílcar, a directora da Biblioteca Municipal de Penafiel Drª Adelaide Galhardo, e quem presenciou ficou surpreendido e maravilhado.
A anteceder a apresentação, o público foi acompanhado com abertura e muita performance musical, do Grupo “Dente de Leão”, que aproximadamente em 30 minutos, com duas pausas, encantaram e recorreram atentos ao desnorte e ao rumo da Europa e do mundo.
 A desigualada e disparidade num" mundo dividido em três espécies de nações: aquelas em que as pessoas gastam rios de dinheiro para não aumentar de peso, aquelas em que as pessoas comem para viver e aquelas em que as pessoas não sabem de onde virá a próxima refeição", fizeram acordar consciências, ficar perplexo e sensibilizados.
 Estas foram palavras, encontradas no musical que deliciaram, se enquadraram na conferência/entrevista com autor do livro “A Sentinela”, e ainda “O Último Cabalista de Lisboa”, que catapultaram o autor para o sucesso internacional.
Conforme biografia apresentada do autor Richard Zimler nasceu em 1956 em Nova Iorque. Fez um bacharelato em Religião Comparada na Duke University e um mestrado em Jornalismo na Stanford University. Trabalhou como jornalista durante oito anos, principalmente na região de São Francisco. Em 1990 foi viver para o Porto, onde lecionou Jornalismo, primeiro na Escola Superior de Jornalismo e depois na Universidade do Porto. Tem atualmente dupla nacionalidade, americana e portuguesa.
Drª Adelaide Galhardo conduziu a entrevista com muita clareza e excelente profissionalismo, quando esta inquestionável comunicadora, conseguiu esclarecer o público com temáticas diversificadas do autor, e colocadas ao mesmo a quando ao lançamento deste último livro do Escritor Richard Zimler.
A minha presença pode ensinar-me a entender, porque razão sempre que posso, estou presente, ao ser surpreendido por este autor, amigo de um grande amigo meu, e neurocirurgião ausente, Dr. Rocha Melo.
Confesso que não li “A SENTINELA” no entanto, num fragmento da entrevista fui capaz de entender á semelhança de outros autores, que mais uma vez a tentativa e presença da corrupção se encontra presente nos romance deste autor.
Tal como retratado “a descoberta de uma pendisk escondida na biblioteca da casa contém alguns ficheiros com indícios de que a vítima poderá também ter sido silenciada por um dos políticos implicados na rede de corrupção que o industrial montara para conseguir os seus contratos.
Fascinante a temática, o sofrimento que este autor e a sociedade em geral se deparam, grande sensibilidade e luta pela injustiça, chamando sempre pelos nomes os construtores (da teia já preparada para a caçada dos insectos mais fracos).
Para o autor, a força motriz da transformação que conduziu ao mundo actual foi a Europa, principalmente depois de "uma longa maturação multicentenária (1000-1500)" que "assentava numa revolução económica e numa transformação de todo o processo de produzir, adquirir e gastar como não se via desde a chamada revolução neolítica". No final do processo, o "mundo de Adam Smith ganha forma". Definitivamente. A partir daí, instala-se a desigualdade no planeta. "Há 250 anos a diferença entre o mais rico e o mais pobre seria de 1 para 5", mas hoje a "diferença entre Suíça e Moçambique é de 400 para 1".
"A façanha portuguesa é testemunha do seu espírito empreendedor e força, da sua fé religiosa e entusiasmo; da sua capacidade para mobilizar e explorar os conhecimentos e as técnicas mais recentes. Nenhum chauvinismo tolo; o pragmatismo em primeiro lugar."
Uma obra escrita, sem medos ou vaidades apenas com verdades, só poderá ser entendida se for lida.
Aconselho a ler "A SENTINELA" para entender melhor o que, o mundo anda a fazer!
Uma maravilha, a forma como este evento foi projectado e conduzido.

Parabéns.
Sem palavras!


Penafiel 22 de Fevereiro de 2014


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

QUANDO TERMINAR A RECESSÃO TEREMOS PERDIDO….

30 ANOS DE DIREITOS E SALÁRIOS.


Um dia no ano 2014 vamos acordar e vão anunciar-nos que a crise terminou. Correrão rios de tinta escrita com as nossas dores, celebrarão o fim do pesadelo, vão fazer-nos crer que o perigo passou embora nos advirtam que continua a haver sintomas de debilidade e que é necessário ser muito prudente para evitar recaídas. Conseguirão que respiremos aliviados, que celebremos o acontecimento, que dispamos a atitude critica contra os poderes e prometerão que, pouco a pouco, a tranquilidade voltará às nossas vidas.
Um dia no ano 2014, a crise terminará oficialmente e ficaremos com cara de tolos agradecidos, darão por boas as politicas de ajuste e voltarão a dar corda ao carrocel da economia. Obviamente a crise ecológica, a crise da distribuição desigual, a crise da impossibilidade de crescimento infinito permanecerá intacta mas essa ameaça nunca foi publicada nem difundida e os que de verdade dominam o mundo terão posto um ponto final a esta crise fraudulenta (metade realidade, metade ficção), cuja origem é difícil de decifrar mas cujos objectivos foram claros contundentes - Fazer-nos retroceder 30 anos em direitos e em salários.
Um dia no ano 2014, quando os salários tiverem descido a níveis terceiro-mundistas; quando o trabalho for tão barato que deixe de ser o fator determinante do produto; quando tiverem feito ajoelhar todas as profissões para que os seus saberes caibam numa folha de pagamento miserável; quando tiverem amestrado a juventude na arte de trabalhar quase de graça; quando dispuserem de uma reserva de uns milhões de pessoas desempregadas dispostas a ser polivalentes, descartáveis e maleáveis para fugir ao inferno do desespero, então a crise terá terminado.
 
Um dia do ano 2014, quando os alunos chegarem às aulas e se tenha conseguido expulsar do sistema educativo 30% dos estudantes sem deixar rastro visível da façanha; quando a saúde se compre e não se ofereça; quando o estado da nossa saúde se pareça com o da nossa conta bancária; quando nos cobrarem por cada serviço, por cada direito, por cada benefício; quando as pensões forem tardias e raquíticas; quando nos convençam que necessitamos de seguros privados para garantir as nossas vidas, então terá acabado a crise.
Um dia do ano 2014, quando tiverem conseguido nivelar por baixo todos e toda a estrutura social (exceto a cúpula posta cuidadosamente a salvo em cada sector), pisemos os charcos da escassez ou sintamos o respirar do medo nas nossas costas; quando nos tivermos cansado de nos confrontarmos uns aos outros e se tenham destruído todas as pontes de solidariedade. Então anunciarão que a crise terminou.
Nunca em tão pouco tempo se conseguiu tanto. Somente cinco anos bastaram para reduzir a cinzas direitos que demoraram séculos a ser conquistados e a estenderem-se. Uma devastação tão brutal da paisagem social só se tinha conseguido na Europa através da guerra.
Ainda que, pensando bem, também neste caso foi o inimigo que ditou as regras, a duração dos combates, a estratégia a seguir e as condições do armistício.
Por isso, não só me preocupa quando sairemos da crise, mas como sairemos dela. O seu grande triunfo será não só fazer-nos mais pobres e desiguais, mas também mais cobardes e resignados já que sem estes últimos ingredientes o terreno que tão facilmente ganharam entraria novamente em disputa.
Neste momento puseram o relógio da história a andar para trás e ganharam 30 anos para os seus interesses. Agora faltam os últimos retoques ao novo marco social: Um pouco mais de privatizações por aqui, um pouco menos de gasto público por ali e “voila”: A sua obra estará concluída.
Quando o calendário marque um qualquer dia do ano 2014, mas as nossas vidas tiverem retrocedido até finais dos anos setenta, decretarão o fim da crise e escutaremos na rádio as condições da nossa rendição.




Um artigo de (Concha Caballero ***)



Com arranjo de
 Novelas 20 de Fevereiro de 2014



domingo, 16 de fevereiro de 2014

5ª - EXPOSIÇÃO DE CAMÉLIAS

NO SALÃO POLIVALENTE DA JUNTA DE FREGUESIA.


Uma vez mais Joaquim Pinto Mendes, realizou em Novelas, Sábado dia 15 de Fevereiro das 14 ás 22 horas e Domingo das 10 ás 12 horas e das 14 ás 19 horas, no salão polivalente da junta de freguesia, a 5ª – Mostra de Camélias.
No Domingo, foi feita uma visita a Quinta de Carrazedo, onde quem acompanhou, ficou maravilhado perante um cenário de dezenas de Camélias, algumas centenárias.
Joaquim Mendes principal organizador, persiste neste evento de flores de Inverno, e pela 5ª vez no mês de Fevereiro  mostrou-nos a beleza das mesmas. As Camélias!
Foi empolgante quem pode assistir ao evento, ver dezenas de Camélias a começar e acabar de florir na Quinta de Carrazedo, em Novelas.
O Salão polivalente em Novelas, foi visitado no Sábado e Domingo por dezenas de pessoas que se maravilharam em ver muitas camélias com variados tamanhos formas e cores. Embora este não fosse um ano de excelência para esta flor, devido ao período prolongado da chuva, mesmo assim foi feita uma belíssima exposição para quem quis visitar.
Algumas pessoas da freguesia segundo a organização, perguntaram quando ia ser esta belíssima exposição, mas tanto no Sábado como no Domingo o organizador não viu essas pessoas na exposição. À semelhança de anos anteriores Joaquim Pinto Mendes, explica que foi feita uma óptima publicidade desta vez com muito profissionalismo para divulgar o evento. O apoio foi total e da "União de Freguesias" representadas pelo  Presidente Dr. Micael Cardoso .
Em anos anteriores tinha-se divulgado num painel gigante pintado a letras vermelhas, a divulgação do mesmo, entendeu-se corrigir, no entanto na opinião da organização, não se compreende quando se questiona quando é o evento e de seguida não vêm maravilhar-se com estas magníficas exposições.
No inicio do Inverno algumas Japónicas também conhecidas por Japoneiras ou Camélias, começam a abrir os seus botões, flores originárias da China e introduzidas no Japão a partir do século VI, sendo apreciadas como plantas ornamentais, não só pelas flores como pela beleza da sua folhagem.
Actualmente existem mais de 20.000 variedades e derivados desta espécie.
Os licores variados por excelência onde algumas variedades, as compotas tudo conseguido através desta flor de Inverno, por serem plantas muito sensíveis às variações climáticas e em especial às amplitudes térmicas, não se adaptam-do por isso com facilidade em Portugal e dificultado a colheita deste precioso néctar.
Agrupar e classificar milhares de camélias de modo preciso, tornou-se também cada vez mais difícil e complexo, devido à sua variedade, mutação uma vez que esta flor resiste aberta por um periodo curto de tempo
        Em virtude das Camélias serem tão apreciadas na Europa, América e no Oriente - de onde são originárias - houve necessidade de se adoptar uma terminologia e uma classificação mais detalhada.
O desenvolvimento dos meios de comunicação tem sido importante para adopção de uma nomenclatura uniforme, para o registo de novos eventos,  mostras destas exposições com flor de inverno de um período curto de floração e frágeis às variações de temperatura. Novelas mais uma vez não ignorou as suas actividades culturais e exposições, com eventos em que organizações como estas insistem e resistem, às crises da actualidade.

    
Desde criança que recordo, as grandes decisões, manifestações e reivindicações culturais, em que a população e os líderes da Junta de Freguesia de Novelas, ao longo de anos nos habituaram e granjearam reconhecendo o empenho e dedicação, ao desporto e à cultura. 
Para não fugir à regra e durante os seu três anos, este último Presidente Carlos Alberto Miranda Monteiro, fez questão, em vincar, acompanhar, agraciar, e reconhecer, quem sem qualquer interesse levou e leva o nome da freguesia de Novelas cada vez mais longe. 
Apesar de extinta freguesia, contra a vontade de quase todos, especialmente pelas lutas travadas contra a sua extinção, da qual era nesse momento presidente da Junta, Alberto Monteiro como sempre nos habituou, procedeu ao encerramento da exposição e entrega de Certificado que muito lisonjearam os expositores.
Parabéns amigo Joaquim Mendes e seu acompanhante expositor Sr Leitão, por não fugirem apesar desta crise financeira que assola o pais vos dificultar. Novelas reconhecerá certamente a vossa persistência, o vosso grande trabalho sem receber nada em troca permitindo a todos, saber mais sobre esta flor.

Pessoalmente eu gostei. Parabéns!

 Novelas 16 de Fevereiro de 2014



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sebastião da Gama




Sebastião da Gama nasceu na Vila Nogueira de Azeitão, em 10 de Abril de 1924.
Aí fez a escola primária e depois repartido por Lisboa e Setúbal fez o Liceu.
Aos catorze anos, é-lhe diagnosticada uma grave doença: tuberculose óssea.
Devido a esta doença, a família, por aconselhamento médico, muda-se para o Portinho da Arrábida.
E é ali, na Arrábida, naquele verdadeiro templo da natureza, todo ele impregnado da memória poética, mística, de Frei Agostinho da Cruz que ali professou por volta do ano de 1560 e ali viveu em isolamento por mais de 60 anos.
Figura excelsa a de Frei Agostinho da Cruz, quase divina que foi, verdadeiramente, o S. Francisco português e também o nosso primeiro ecologista: até as pedras amava!
Vejam só este pequenino verso dele:
Antes que desta praia hoje me abale,
A fera amansarei, o duro seixo
Ousarei abrandar, farei que fale!
É ali, na Serra da Arrábida, naquele reino do silêncio e da contemplação que o jovem Sebastião da Gama vai despertar para a poesia e se vai converter devotamente ao catolicismo até ao fim da vida.
Amava aquilo … e muito cedo começou a cantar aquelas gentes e aqueles caminhos como se pode ver no primeiro livro que publicou: “Serra Mãe”.
Feito o Liceu, Sebastião da Gama, então com dezoito anos, matricula-se na Faculdade de Letras, de Lisboa. Em 1947, com vinte e três anos, licencia-se em Filologia Românica.  E sai o seu segundo livro: “Cabo da Boa Esperança”.
Acabado o curso, é colocado como professor em Setúbal onde começa a escrever o seu “Diário” obra, ainda hoje, de leitura obrigatória para quem quer ser professor, onde nos diz: “para ser professor, também é preciso ter as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores”.
No ano escolar seguinte é colocado como professor em Estremoz. Publica o seu terceiro livro: “Campo aberto”. E casa-se com aquela que é sua apaixonada desde a adolescência como muito bem pudemos ver nas mais de cem cartas que estão publicadas.
Parece que tudo está a correr bem, no entanto, sete meses após o casamento, no dia 7 de Fevereiro de 1952, vitima da doença que desde os 14 anos o perseguia, morre o autor de: “PELO SONHO É QUE VAMOS”. Tinha vinte e oito anos.              
José Silva 

Pelo sonho é que vamos


   
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos? 
- Partimos. Vamos. Somos.
(Sebastião da Gama)
Novelas, 7 de Fevereiro de 2014



terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A FOME DE UNS...



DEVERIA SER A FOME DE TODOS!


Recebemos um email de Carla Romualdo, que retratou como passou «o mês de Agosto». Fomos solidários, ficamos a saber que " somos Iguais como Somos e diferentes quando queremos Ser "... Pensamos durante certo tempo.
Mesmo sendo todos iguais e parte de um mesmo Todo! O que se apresenta é um retrato

 UM RETRATO NADA FANTÁSTICO, MAS VERDADEIRO!
« Passei o mês de Agosto a ir a um hospital todos os dias, e em cada um desses dias vinha um enfermeiro ou auxiliar ter consigo à porta do refeitório para lembrar que não podia entrar ali.
Eu ia de braço dado com o meu pai e só queria garantir que ele chegava inteiro à cadeira, e preparar-lhe a comida, como se faz com as crianças, tirar as espinhas do peixe, descascar-lhe a laranja. Com bons modos, mas sem deixar margem para protestos ou pedidos especiais, apareceu sempre alguém para mandar-me sair porque só os doentes podem entrar no refeitório, as visitas estão proibidas de fazê-lo.
A proibição justificava-se por razões de organização interna, espaço, ruído, etc. A razão principal só se sabe ao fim de alguns dias a passear pelos corredores: enquanto puderam entrar no refeitório, era frequente as visitas comerem as refeições destinadas aos doentes.
Sentavam-se ao lado dos pais, avós, irmãos, maridos ou mulheres e iam debicando do seu prato, ou ficando com a parte de leão.


À ingénua indignação inicial, seguiu-se de muitas histórias de miséria que ajudam a explicar como se pode chegar aí. Só quem, quem constatou, nunca a passou, demora a entender que a fome pode roubar tudo a um ser humano.
Rouba-lhe a solidariedade até com os do seu sangue, a dignidade, o respeito, tudo aquilo que o faz ser gente. E pelo retrato que presenciou nesse hospital público do Porto, há fome nos nossos hospitais. Doentes que pedem ao companheiro do lado o pão que lhe sobrou, a laranja que não lhe apeteceu comer, a sopa que deixou a meio. Há quem diga que prefere comer um pão simples, ao lanche, para esconder na fímbria do lençol o pacote da manteiga ou da compota para mandar para os catraios lá de casa. Há quem não anseie pelo dia da alta porque, pelo menos ali, come as refeições todas. Há quem vá de mansinho à copa perguntar se dos outros tabuleiros sobrou alguma coisa que lhe possam dispensar.
Fica-se com um nó na garganta com tudo o que se vê e vira-se a cara para o lado com vergonha. Vergonha por ser parte disto, por não ter gritado o suficiente, por não ter sido parte da mudança que se reclama há tanto.
E depois estão os caixotes de lixo remexidos pela noite fora, as filas para as carrinhas de distribuição de alimentos, o passeio do albergue cheio de gente, gente que vagueia como sonâmbula, que discute por uma moeda de vinte cêntimos ou por um portal onde dormir. E estão? A nossa maior vergonha? As cantinas escolares que têm de abrir nas férias para garantir a única refeição diária de tantas crianças, as mesmas cantinas que sabemos que estarão encerradas à hora do jantar.
A fome reduz-nos à biologia, despoja-nos de qualquer ideal, impede-nos de dizer não ou de levantar um dedo acusatório, e será pela fome que, como num passado não tão remoto assim, procurarão dominar-nos.
Quando se fazem campanhas eleitorais distribuindo benesses sob a forma de electrodomésticos, medicamentos que a miserável reforma de um velho não pode comprar, ou mandando matar porcos para apaziguar a fome nos bairros sociais, o que aparece mascarado de acção solidária não é mais do que a manipulação despudorada da necessidade alheia, necessidade a que, aliás, estas pessoas foram sendo condenadas, por décadas de injustiça social, corrupção, gestão ruinosa, e todos os que nunca fizeram nada, mas que conhecemos demasiado bem mas a que nem por isso somos capazes de pôr fim.
E se nos distrairmos ainda acabamos a apontar o dedo aos excluídos, a fazer contas ao rendimento mínimo do vizinho, a aplaudir o corte no salário, na pensão, no subsídio, como se a igualdade se fizesse rebaixando, como se a solução fosse difundir a miséria em vez de democratizar as condições para uma vida digna.
Confessou que sentiu o imperativo moral de pagar uma refeição a quem lhe pedia, mas tinha dificuldades em lidar com essa pessoa. Porque quero que fique claro que a relação entre nós, se pode chamar relação, apenas deve ser de respeito mútuo e, sendo certo que em qualquer momento futuro as nossas posições podem inverter-se, temos, um para com o outro, a mesma obrigação.
Mas sentiu-se sempre desconfortável com a mendicidade do outro, com a sua posição de aparente debilidade, com a sua ilusória superioridade.   A fome de uns é a fome de todos e já é hora de a sentirmos assim, mesmo que não nos aperte o estômago, mesmo que não nos roube a nossa dignidade.»
Os Jovens receberam o email de Carla Romualdo, agradecem e deploram a dura realidade vivida. Imaginávamos que ser diferente era importante.
Só mesmo no nosso país!

Novelas 4 de Fevereiro de 2014



domingo, 2 de fevereiro de 2014

CADA VEZ MAIS RESIGNADOS

REALMENTE ASSUSTADOR! 

Jovens obrigados a emigrar. Filas intermináveis de pessoas à espera de receber comida e roupa. Famílias sem dinheiro para pagar a luz. Idosos abandonados em camas “até ao último dos seus dias”. São retratos de um país que vive há três anos debaixo da austeridade da Troika, reunidos no mesmo Projeto. Oito fotojornalistas e um realizador juntaram-se com o intuito de deixar o testemunho…

 
Querem captar através das lentes das suas câmaras o que restou de Portugal depois de tão grandes transformações. Que a história se mantenha onde a memória não tem tempo.
Não o fazem a favor ou contra ninguém. Trata-se apenas de retratar as consequências, o impacto e os resultados deste programa de assistência financeira internacional pedido pelo governo português em 2011.
O Projeto Troika teve início há mais de um ano e pretende ficar registado através de uma plataforma online, de ensaios fotográficos e de um filme. É “o legado que queremos deixar”, afirmam os autores do projeto.
Foi com Adriano Miranda, fotojornalista do diário “Público”, que a ideia surgiu. Miranda é o autor da série fotográfica “Os Despidos”.
“Olho para trás e tenho saudades, olho para a frente e não sei para onde me querem levar. Sinto-o na pele. Já quase nada resta para tirar. Estamos, cada um de nós, à sua maneira, a ficar despidos. Despidos de rendimento, despidos de trabalho. Despidos de dignidade e de direitos. Despidos de afectos, de liberdade e de alegria. Despidos de saúde, de cultura, de educação. Despidos até de revolta com as ruas vazias.” Lara Jacinto optou por centrar-se na questão da emigração. 
“Esta viagem é uma separação, uma rotura que obriga a uma mudança de rota. A família fica para trás, filhos que não se veem crescer, casamentos que não se fazem, ou acontecem à pressa, projetos abandonados, expectativas desfeitas.”
     Paulo Pimenta expõe os “efeitos da política da Troika na sociedade”.
Rodrigo Cabrita mostra o lado de muitos idosos, em situações de extrema vulnerabilidade. “Francelina está acamada, sem mobilidade, e Francisco, seu marido, precisa do apoio das equipas da Cruz Vermelha. A ida para um lar está fora de questão pois o dinheiro das reformas não chega. Nem para o lar, nem para tudo o resto.”
José Carlos Carvalho aborda a tristeza. “Os Portugueses estão tristes, parados, enfim cada vez mais resignados.”
Vasco Célio reflete “sobre os limites de Portugal, onde chegamos a um ponto onde a saída parece impossível e o retorno sem sentido.” Enquanto, António Pedrosa retrata os mais jovens, os que não têm trabalho e que vão fazendo o que podem para sobreviver. E Bruno Castanheira mostra “as centenas de pessoas carenciadas [que] aguardam a entrega de alimentos e roupas” em Lisboa.
Da longa série "dizem que existe um cheirinho a alecrim", e não não se trata de nenhuma brincadeira. Retrata-se um processo que está a acontecer lentamente, fruto  de um plano.


Novelas, 7 de Janeiro de 2014