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domingo, 2 de fevereiro de 2014

CADA VEZ MAIS RESIGNADOS

REALMENTE ASSUSTADOR! 

Jovens obrigados a emigrar. Filas intermináveis de pessoas à espera de receber comida e roupa. Famílias sem dinheiro para pagar a luz. Idosos abandonados em camas “até ao último dos seus dias”. São retratos de um país que vive há três anos debaixo da austeridade da Troika, reunidos no mesmo Projeto. Oito fotojornalistas e um realizador juntaram-se com o intuito de deixar o testemunho…

 
Querem captar através das lentes das suas câmaras o que restou de Portugal depois de tão grandes transformações. Que a história se mantenha onde a memória não tem tempo.
Não o fazem a favor ou contra ninguém. Trata-se apenas de retratar as consequências, o impacto e os resultados deste programa de assistência financeira internacional pedido pelo governo português em 2011.
O Projeto Troika teve início há mais de um ano e pretende ficar registado através de uma plataforma online, de ensaios fotográficos e de um filme. É “o legado que queremos deixar”, afirmam os autores do projeto.
Foi com Adriano Miranda, fotojornalista do diário “Público”, que a ideia surgiu. Miranda é o autor da série fotográfica “Os Despidos”.
“Olho para trás e tenho saudades, olho para a frente e não sei para onde me querem levar. Sinto-o na pele. Já quase nada resta para tirar. Estamos, cada um de nós, à sua maneira, a ficar despidos. Despidos de rendimento, despidos de trabalho. Despidos de dignidade e de direitos. Despidos de afectos, de liberdade e de alegria. Despidos de saúde, de cultura, de educação. Despidos até de revolta com as ruas vazias.” Lara Jacinto optou por centrar-se na questão da emigração. 
“Esta viagem é uma separação, uma rotura que obriga a uma mudança de rota. A família fica para trás, filhos que não se veem crescer, casamentos que não se fazem, ou acontecem à pressa, projetos abandonados, expectativas desfeitas.”
     Paulo Pimenta expõe os “efeitos da política da Troika na sociedade”.
Rodrigo Cabrita mostra o lado de muitos idosos, em situações de extrema vulnerabilidade. “Francelina está acamada, sem mobilidade, e Francisco, seu marido, precisa do apoio das equipas da Cruz Vermelha. A ida para um lar está fora de questão pois o dinheiro das reformas não chega. Nem para o lar, nem para tudo o resto.”
José Carlos Carvalho aborda a tristeza. “Os Portugueses estão tristes, parados, enfim cada vez mais resignados.”
Vasco Célio reflete “sobre os limites de Portugal, onde chegamos a um ponto onde a saída parece impossível e o retorno sem sentido.” Enquanto, António Pedrosa retrata os mais jovens, os que não têm trabalho e que vão fazendo o que podem para sobreviver. E Bruno Castanheira mostra “as centenas de pessoas carenciadas [que] aguardam a entrega de alimentos e roupas” em Lisboa.
Da longa série "dizem que existe um cheirinho a alecrim", e não não se trata de nenhuma brincadeira. Retrata-se um processo que está a acontecer lentamente, fruto  de um plano.


Novelas, 7 de Janeiro de 2014



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